O cinzeiro improvisado era enfeite acobreado, com seu brilho ofuscado pelas cinzas fumegantes. Um livro gasto, de capa envelhecida, tinha uma página marcada por uma flor meio amassada - esta qual já fora um dia, se não cor, sinal de vida.
A poltrona almofadada e desgastada, ainda tinha o tom convidativo do que um dia fora verde, escuro e quase sombrio, constratando com a madeira bem talhada que ornamentava a estrutura luxuosa do móvel.
A lareira se apagava conforme a noite se estabelecia e o quadro que ela suportava, mal se via.
As cortinas cor de vinho, pesadas, bloqueavam toda iluminação que pudesse querer se esgueirar. Embora empoeiradas, junto aos tapetes elegantes, davam um ar sofisticado ao ambiente monótono.
Tudo cheirava a velharia, até mesmo o vinho que provocava a garganta com suas notas abrasadoras. A sala da lareira tinha lá seus sinais de habitação mas sua aparência, no geral, lhe conferia um cômodo abandonado.
No chão de piso frio, com frisos e detalhes, via-se resquícios de tinta do tinteiro derramado ao pé da poltrona. Junto á cena, uma caneta compunha o conjunto. Mais gotas de tinta e um papel.
Em letras esbeltas e distintas, lia-se:
"A expressão do meu rosto
Não demonstra
A dor dos meus ossos
E este quadro que pintei
Da paisagem que escolhi
E minhas dores de amor
Desta vida que vivi
Não explicam,
Não expressam
Esses meus olhos
Que desfalecem vazios"
Não demonstra
A dor dos meus ossos
E este quadro que pintei
Da paisagem que escolhi
E minhas dores de amor
Desta vida que vivi
Não explicam,
Não expressam
Esses meus olhos
Que desfalecem vazios"
R.M.
Nenhum comentário:
Postar um comentário