quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Tortura

Tirar do peito a Emoção
A lúcida Verdade, o Sentimento
- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso d’alto pensamento,
E puro como um ritmo d’oração!
- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto

Florbela Espanca